“Inesperado.” No comercial da JAC, Faustão define bem o desempenho da marca no Brasil. No mercado há três meses, ela fechou o primeiro semestre como segunda maior importadora de veículos do país, atrás da Kia. Com preço competitivo, boa oferta de equipamentos e garantia de seis anos, colocou nas ruas pouco mais de 8.500 unidades do J3, hatch e sedã. E quer ir além. Para tanto, passa a oferecer a J6. A minivan sai por R$ 58.800, na versão de cinco lugares, e R$ 59.800, na de sete, como a que você vê aqui. É uma faixa de preço que atrai consumidores ainda mais exigentes. A J6 está pronta para eles?
Quando o assunto é espaço, a minivan não passa aperto. Nem o quinto passageiro, em geral negligenciado, sofre. Seu banco é mais estreito que os dos vizinhos, mas ele viaja com conforto. Se o lugar estiver vago, os ocupantes das laterais podem rebater o encosto central e usar os porta-copos disponíveis ali. Eles também podem regular, individualmente, a inclinação do encosto e a posição longitudinal dos assentos, já que há sistema de deslizamento.
A flexibilidade chama atenção. Puxe uma alça daqui, levante outra de lá e pronto, os bancos podem ser rebatidos e retirados. Pena que o dispositivo para essas operações não seja dos mais modernos. Além disso, faltou cuidado ao projetar as tiras de tecido que deveriam prender os bancos da segunda fila após o rebatimento. Elas não são elásticas e não alcançam a haste do encosto de cabeça dianteiro. Adesivos obrigatórios ensinam a conduzir as mudanças. Um deles alerta: “É proibido colocar qualquer parte do corpo sob o assento durante o rebatimento do banco”. OK.
Na terceira fileira, o espaço é limitado. Atende crianças. Mas nem elas encontram boa posição para os pés. O acesso ao local não é simples. Mas o pior é sair: as pernas esbarram na presilha que fixa o banco da segunda fila ao assoalho. Com os dois assentos “extras”, o porta-malas é bastante reduzido. Sem eles, a JAC divulga capacidade para levar 720 litros.
A J6 traz dois avanços em relação aos J3: ajuste de altura para os cintos da frente e comando central para travar e destravar portas. Porém, ainda é estranho um carro de R$ 60 mil que não abre quando a maçaneta é acionada. Digo R$ 60 mil, mas pode ser mais. A pintura metálica ou perolizada custa R$ 1.190, as rodas aro 17, R$ 1.600, e o revestimento de couro para os bancos, R$ 1.800. Couro de série, só no volante que, assim, ganha pegada melhor. Com ajuste de altura, ele incorpora botões para controle de volume do som e para troca das rádios. Só que o comando não alterna entre as emissoras que já estão programadas. No console central há entrada USB. Mas a qualidade do som deixa a desejar.
O painel da J6 é emborrachado, bem como a área das portas com a qual os ocupantes têm maior contato. Ainda assim, falta refinamento ao acabamento. No quadro de instrumentos predomina o tom azul, como no J3. Mas é possível regular a intensidade da luz. Falta ali um computador de bordo. O velocímetro, por sua vez, é estranho. Traz sobre a escala numérica uma peça que lembra um transferidor. Ela fica saltada e a graduação não bate certinha com a dos registros de velocidade, o que confunde a leitura. Quando o ponteiro chega a 120 km/h, o do conta-giros marca 3.900 rpm. Apesar da alta rotação, o ruído do motor não incomoda. O barulho mais incômodo surge ao passar por pisos irregulares.
As imperfeições das vias são bem absorvidas pela suspensão, independente nos dois eixos. Com configuração dual link atrás, ela apresenta bom acerto, como comprovamos na pista de testes. Lá, também, testamos o motor 2.0 de 136 cv e 19,1 kgfm. Ele substitui o 1.8 oferecido na China e empurra razoavelmente os 1.500 kg da J6, que leva 13,4 s para alcançar 100 km/h – com gasolina, afinal, não é flex. As retomadas de velocidade também não são das melhores: para voltar aos 100 km/h a partir dos 60 km/h, gastam-se 12 s. Tudo isso com a participação do câmbio manual de cinco marchas. Seus engates não são ruins, mas fazem um pouco de barulho, assim como o pedal de embreagem de longo curso, que apresentava rangido na versão avaliada. A transmissão automática não está nem estará disponível tão cedo, de acordo com o responsável pela importação do J6, Sergio Habib, presidente do Grupo SHC.
Os números que mais decepcionam são os de frenagem. Apesar do ABS, a minivan demora a parar. Em situação de emergência a 80 km/h, pede 31 m para interromper o movimento. Se algo dá errado, o airbag duplo frontal ajuda a garantir segurança.
O primeiro lote da J6 chega ao país nesta primeira semana de agosto. Parte dele já está comprometido: segundo a JAC, 600 unidades foram vendidas – mesmo sem oportunidade de test drive. A expectativa é de que entre 1.000 e 1.500 unidades sejam emplacadas todos os meses. Apesar de vir completa, ter visual atraente e boa oferta de espaço, temos dúvidas se tantas pessoas vão se dispor a pagar R$ 60 mil pela minivan chinesa. Se a previsão se confirmar, teremos de usar mais uma vez o bordão do Fausto Silva. Será “inesperado”.
Mercado de minivans
A aposta de vender de 1.000 a 1.500 unidades é bastante ambiciosa. Segundo dados exibidos por Habib, o segmento de minivans atingiu apenas 2.000 unidades no primeiro semestre deste ano. “Mas há potencial para atingir 8.000, especialmente se contarmos com todos os canais de distribuição, o que inclui táxi, frota, locadora... O problema do segmento é que os carros envelheceram e as montadoras não se preocuparam em renová-los”, afirma o executivo.
Perfil do consumidor
Na apresentação do J6 à imprensa esta manhã também foram revelados dados de uma pesquisa realizada com131 compradores do modelo. Confira a seguir:
65% deles são homens.
Entre eles, 79% serão os próprios usuários do carro.
De maneira geral, o J6 foi adquirido por pessoas na faixa dos 33 aos 55 anos, casadas e com filhos.
25% dos compradores já possuem três carros ou mais.
11% chegaram à revenda por indicação de alguém.
54% das pessoas compraram o modelo na primeira visita à concessionária. 31%, na segunda.
Entre os que não fecharam negócio na hora, 55% voltaram dentro de no máximo uma semana para faze-lo.
25% vão levar para casa a versão com cinco lugares. Os demais, compraram a configuração Diamond, com sete assentos.
27% dos compradores não comparou o J6 com nenhum outro modelo antes de fazer sua opção. 19% deles consideraram a Nissan Livina e 17%, a Chevrolet Zafira. 6% cogitaram levar o Hyundai Tucson.
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