quinta-feira, 24 de novembro de 2011

FORD ECOSPORT 1.6 XLT FREESTYLE




O destaque do novo EcoSport não está nos belos faróis espichados. Versões, motores e até mesmo o preço continuam como estavam, então também não é isso. A grade inspirada na F-150 americana mostra a intenção de se aproximar da linha de utilitários da marca, como também fará a futura Courier, mas... Das 230 peças novas da linha 2008, a mais importante é o parafuso de borracha que fica acima do pára-choque traseiro, no lado direito. Parece um cogumelo graúdo. Esse cogumelo vem absorver a pancada que você dá ao fechar o porta-malas, papel que antes era cumprido pela borracha de vedação. Depois de alguns meses apanhando, a guarnição perdia a flexibilidade e parava de vedar a tampa. A vibração da porta traseira, de 50,3 quilos, é a principal fonte de ruídos indesejáveis do EcoSport.
Mais que CrossFox ou Idea Adventure, o maior rival do EcoSport nasceu na própria Ford. É um fantasma que atende pelo apelido "NhecoSport". Ele é fruto da equação "carro novo + fábrica nova + método de produção inovador + mão-de-obra inexperiente + equipe de engenharia local reduzida + forte contenção de custos". Em 2003, escolhemos o EcoSport como a Melhor Compra. Era o tipo de carro que todos queriam, um jipinho, muito mais barato que os importados. Seguimos nosso próprio conselho, compramos um para o Longa Duração e, a exemplo de centenas de consumidores, ficamos decepcionados. Então, pouco adianta falar das mudanças de estilo da linha 2008 sem responder qual dos dois prevalece hoje em dia, Eco ou Nheco.
Ao abrir a porta, a cabine parece melhor. O painel ganhou saídas de ventilação vistosas, com aros prateados, e marcadores de combustível e temperatura com ponteiros, mais visíveis que os digitais. É a receita do novo Fiesta, mas com outro tempero. Velocímetro e conta-giros do jipinho moram sob a mesma cobertura, em vez de terem canhões separados. São exclusivos do Eco os botões de vidro elétrico mais seguros, em forma de vírgula (que você puxa para subir), e a bola da alavanca de câmbio com aplique cinza. Se bem que ela se parece muitíssimo com a do Prisma... "Copiamos do Fiesta europeu, que veio primeiro", diz João Marcos Ramos, gerente de design. "Se eles copiaram da gente..." Do pequeno Chevrolet também vem a textura usada na faixa horizontal que passa a cruzar o painel e se estende pelos novos acabamentos de porta. O plástico é o mesmo, mas parece mais convidativo. "As ranhuras que imitam couro ganharam quinas mais arredondadas", afirma Ramos. "Você não consegue ver, mas percebe." Abrutalhada, a cabine ganhou um jeitão de Land Rover.
Os bancos dianteiros agora têm assento mais largo e com abas pronunciadas, que seguram melhor o corpo. Ele vem se juntar ao encosto, que cresceu no ano passado. Falta providenciarem uma plataforma para o pé esquerdo, pois a caixa de roda não oferece apoio. Há algum tempo o forro do teto já não foge para cima, quando apertamos o interruptor da luz interna, e agora o carpete ficou mais felpudo. A empresa diz que adotou mantas de isolamento acústico mais espessas (passaram de 900 para 1 100 gramas por metro quadrado), a fim de trazer a tão almejada paz interior.
"Sim, nós estamos admitindo, o EcoSport tinha problemas de ruído", diz Nahuel Osanai, gerente de projeto da Ford. "Mas fizemos diversas alterações para resolver isso." Nada contra o senhor Osanai, mas eu estava no evento de lançamento, em 2003, e o discurso era igualmente otimista. Precisamos ver como as novidades se comportam na rua.
Chave no contato, vejo que o controle remoto do alarme do EcoSport não fica mais batucando na coluna de direção. Era irritante pelo barulho em si e pelo quanto aquilo era fácil de resolver. Finalmente puseram uma tira de borracha. O passeio começa numa ladeira íngreme, e percebo que não é preciso carregar no pedal de embreagem como eu fazia no nosso Eco de Longa Duração. As duas primeiras marchas foram encurtadas, nessa versão 1.6. No teste de 0 a 100 km/h, em Limeira, o modelo 2008 foi 1,4 segundo mais rápido que o 1.6 flex que testamos há um ano. É bastante coisa.
Mas o mais impressionante nesse EcoSport cedido pela montadora nem é subir ladeiras. É cair em buraco e não ouvir um estrondo. "Como parece sólido!", comentou um colega de redação. Para nós, que tivemos um legítimo NhecoSport, aquilo era demais. Será que esse veio premiado?
Levamos o EcoSport novo e um antigo ao Centro de Experimentação e Segurança Viária (Cesvi), especializado em bater e desmontar carros e propor soluções. Desmontaram painel, forrações e lataria, olharam tudo com lupa e trouxeram o resultado: "Esse Eco não tem improvisos para abafar ruído", diz o técnico Felício Félix. O que ele traz são melhorias pequenas e invisíveis, para acabar com a impressão de que "bate tudo". O porta-luvas do antigo era sustentado por uma tira de metal liso, pelo lado direito. Essa tira quase dobrou de espessura e ganhou a companhia de outra, pelo lado esquerdo. O painel de instrumentos, que era fixado por apenas dois parafusos próximos, agora tem quatro, simetricamente afastados. Os painéis de porta agora têm as beiradas em forma de saias, para amortecer o choque com a lataria e dar pressão na montagem. "Pode acabar trazendo rangido, porque aumentou a área de contato, mas é uma tentativa de evitar impacto", diz o supervisor Eduardo Fernandes. E vai dar certo? "Se vai ser suficiente em todas as situações, a longo prazo, nem a Ford deve saber. O melhor laboratório é a rua", diz. "Mas, sem dúvida, o carro está mais bem preparado."
Dirigia com o pensamento ocupado, a caminho de casa, tentando achar a nova posição do EcoSport no meu ranking pessoal. O silêncio diante dos buracos começou a incomodar, então liguei o rádio. Passava o Campeonato Brasileiro. O Palmeiras perdia em casa para o Náutico, trocou dois jogadores no intervalo e virou a partida. O comentarista da emissora clareou minhas idéias: "Não venham me dizer que o técnico é um gênio, por conseguir mudar o panorama do jogo. Ele entrou em campo com o time errado e apenas corrigiu a escalação". É isso aí. O EcoSport não virou uma maravilha da natureza, mas agora entrega o que se espera dele. Se você for seduzido pelos novos faróis, pode ir em frente sem tanto medo de se decepcionar.

MEDIDAS DE IMPACTO

1. Instrumentos presos por 4 parafusos, em vez de 2.
2. Borracha entre a coluna de direção e o controle da chave.
3. Mais forro anti-ruído.
4. Mecanismo de recirculação do ar simplificado.
5. A estrutura em "H" sob o console foi reforçada com dobras.
6. Nova tira apóia o porta-luvas no "H".
7. Tira de apoio do porta-luvas à lateral ganha vinco e maior espessura.

DIREÇÃO, FREIO E SUSPENSÃO
Deram mais assistência ao freio, mas continua borrachudo. Não é carro para quem ama dirigir.
★★★
MOTOR E CÂMBIO
Encurtar primeira e segunda marchas trouxe um vigor que fazia falta. O motor é tradicional. Consegue alta potência ao privilegiar o ajuste do álcool, no sistema flex.
★★★★
CARROCERIA
Fonte do sucesso e dos problemas do carro. A reforma manteve o lado bom, a beleza, e se esforça em resolver os problemas de ruído.
★★★★
VIDA A BORDO
Está mais quieta, e isso é uma evolução e tanto. Finalmente alargaram o assento do banco, mas falta um apoio para o pé esquerdo.
★★★★
SEGURANÇA
Freio insensível, direção leve e carroceria pouco afeita a manobras de emergência. O Freestyle não traz ABS ou airbag.
★★★
SEU BOLSO
A reforma traz fôlego ao campeão de vendas. As mudanças no acabamento dão robustez ao carro, o que ajudará a manter o valor de revenda.
★★★★

SATÉLITE FORA DE ÓRBITA
 
O EcoSport XLT 2.0 16V não mudou na parte mecânica. No visual, é igual ao 1.6 testado, mas sem a pintura grafite em rodas, retrovisores, grade e frisos laterais. E o volante com airbag agora é diferente, gorducho. A novidade em equipamentos vem num pacote de 600 reais: comando satélite do rádio (do lado errado, à esquerda, porque veio do Focus e este originalmente tem mão inglesa), computador de bordo e alerta de velocidade. Falta o piloto automático.

OS RIVAIS

- VW CrossFox 
A reforma da linha 2008 não curou sua falta de requinte. É o mais barato a ter estepe fora e o que segue mais de perto as vendas do EcoSport.

- Fiat Idea Adventure 
Vem bem equipado de fábrica e traz soluções práticas, como estepe externo protegido pela trava elétrica e espelhinho para vigiar o banco de trás.
VEREDICTO
O estilo do EcoSport estava menos cansado que o do Fiesta e talvez por isso sua reforma, leve como a do irmão, seja mais eficiente. É admirável o esforço da Ford em resolver falhas de acabamento. Não fazem do Eco 2008 um carro excelente, mas ele já não é apenas um rostinho bonito.


Motor: dianteiro / transversal
Cilindrada: 1 598 cm3
Diâmetro x curso: 82,1 / 75,5 mm
Taxa de compressão: 12,3:1
Potência: (A/G) 110,6 / 105,2 cv a 5 500 rpm
Torque: (A/G) 15,8 / 14,8 mkgf a 4 250 rpm
Câmbio: manual / 5 / dianteira
Carroceria: SUV
Dimensões: Comprimento/entreeixos (cm): 424 / 249; Altura/largura (cm): 167 / 173
Peso: 1 208 kg
Peso/potência: (A/G) 10,92 / 11,48 kg/cv
Peso/torque: (A/G) 76,31 / 81,4 kg/mkgf
Porta-malas/caçamba: 292 l
Tanque: 54 l / 508 km de autonomia
Suspensão dianteira: independente tipo McPherson
Suspensão traseira: eixo de torção
Freios: (dianteiros/traseiros) disco ventilado / tambor
Direção: hidráulica / 3 voltas
Pneus: 205/65 R15
Equipamentos: Ar-condicionado; direção assistida; Rodas de liga leve; pintura metálica (opcional); CD player; Vidros/travas elétricos; Espelhos elétricos; Banco traseiro rebatível 2/3 / 1/3
Consumo urbano: 7,1 km/l (A)
Consumo rodoviário: 9,4 km/l (A)
0 a 100 km/h: 12,8 s
0 a 1000 m: 34,4 s
Retomada 40 a 80 em 3ª (ou D): 8,4 s
Retomada 60 a 100 em 4ª (ou D): 13,2 s
Retomada 80 a 120 em 5ª (ou D): 23 s
Velocidade máxima: 165 km/h
Frenagem: 120/80/60 km/h a 0 - 73,1 / 29,9 / 17,3
Ruído interno 1ª rpm máx: 44,4 / 69,3 dBA
Ruído interno 80 / 120 km/h: 61,5 / 68,8 dBA

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